IMPÉRIO(S) (By:Schtuz Mangovesk)_______
Império Antigo
Estátua
de Quéops, o faraó construtor da Grande Pirâmide de
Gizé.
No
Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas
do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios.
Concomitantemente o comércio com o Oriente Próximo (Líbano, Palestina, Mesopotâmia) e o Punt intensificou-se
e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar
acampamentos estratégicos e uma frota marítima,
assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, mirra, malaquita e electrum.
Durante
o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou
possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para
impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia. Sob a direção do tjati (vizir),
funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação
para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar
em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava
a manutenção da ordem e da paz. Com os excedentes dos recursos
disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de
patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de
obras de arte para as oficinas reais.
A
par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe
de escribas e oficiais letrados que
receberam propriedades do faraó como pagamento pelos seus serviços. Os faraós também fizeram
concessões de terras para seus cultos funerários e templos locais, de forma a
garantir que estas instituições teriam recursos necessários para a adoração do
faraó após a sua morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais
corroeram lentamente o poder econômico do faraó, e que a economia deixou de
conseguir sustentar uma grande administração central. Com a diminuição do poder do
faraó, governantes regionais designados nomarcas começaram
a desafiar a supremacia do faraó. Isso, em conjunto com um
período de secas extremas entre 2 200-2 150 a.C., é apontado como causa da
transição para um período de 140 anos de fome e conflitos conhecido por Primeiro
Período Intermediário.
Primeiro Período Intermediário
Estátua
de Quéfren.
Depois
do colapso do governo central do Egito no final do Império Antigo, o governo
não conseguiu sustentar ou estabilizar a economia do país. Os governadores
regionais não podiam contar com o faraó para apoio em épocas de crise, e a
consequente escassez de bens e disputas políticas agravaram-se para situações
de fome e guerras civis de pequena escala. No entanto, apesar dos problemas, os
líderes locais que já não deviam o tributo ao faraó, usaram esta independência
para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez que dominavam os
seus próprios recursos, as províncias desenvolveram-se economicamente, fato
demonstrado por maiores e melhores atos fúnebres entre todas as classes
sociais. Verificaram-se surtos de
criatividade, com os artesãos das províncias a adotarem e adaptarem motivos
culturais antes restritos à realeza do Império Antigo, e os escribas
desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo e a originalidade do
período.
Livres
da fidelidade ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si
pelo controle territorial e poder político. Por volta de 2 160 a.C.,
os governantes de Heracleópolis controlavam
o Baixo Egito, enquanto um clã rival, baseado
em Tebas, a
família Intef,
assumiu a posse do Alto Egito. À medida
que os Intefs cresceram em poder e se expandiram para norte, um confronto entre
as duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de 2 055 a.C.,
as forças de Tebas sob o comando de Mentuhotep II derrotaram finalmente
os governantes de Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e dando origem a um
período de renascimento econômico e cultural conhecido como o Império Médio.
Império Médio
Império Médio
Estátua
de Mentuhotep II.
Os
faraós do Império Médio restituíram a prosperidade e estabilidade do país,
situação que estimulou um renascimento da arte, literatura e projetos de
construção monumental Mentuhotep II e seus
sucessores da XI dinastia governaram
a partir de Tebas, mas o vizir Amenemhat I, ao assumir ao trono que deu
início início à XII dinastia por
volta de 1 985 a.C., mudou a capital do país para a cidade de Itjtawy, localizada em Faium. De Itjtawy, os faraós da XII
dinastia comprometeram-se a realizar uma recuperação de áreas degradadas e
melhorar o sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola no país. Além
disso, deu-se a reconquista militar de toda a Núbia, rica em pedreiras e minas de ouro,
enquanto trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental,
chamada "Muros-do-Rei",
para defesa do Egito contra ataques exteriores.
Tendo
sido garantida a segurança militar e política, e na presença de uma vasta
riqueza agrícola e mineira, a população, a arte e a religião prosperaram
significativamente. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para
com os deuses, no Império Médio assistiu-se a um aumento nas manifestações de
devoção pessoal, e àquilo que pode ser designado por democratização da vida no
além, na qual todas as pessoas possuem uma alma e podem ser recebidas na
companhia dos deuses. A literatura do Império Médio
abordava temas eruditos e personagens complexos, narrados num estilo confiante
e eloquente. A escultura capturou detalhes
subtis e distintos que atingiram um novo patamar de perfeição técnica;os líderes retomam o costume
de erigirem pirâmides.
No
Império Médio, como forma de garantir a sucessão, os faraós ainda em vida
dividiram o trono com seu sucessores, mantendo-os como co-faraós. O último grande governante do
Império Médio,Amenemhat III,
permitiu que colonos asiáticos se instalassem na região do Delta de modo a ter disponível força de
trabalho suficiente para as suas particularmente ativas campanhas de construção
e mineração. Estas ambiciosas campanhas, porém, em conjunto com cheias
inadequadas do Nilo no seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um
lento declínio no Segundo
Período Intermediário durante as posteriores XIII e XIV dinastias.
Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir o controle da
região do Delta, acabando por alcançar o poder no Egito, como foi o caso
dos hicsos.
Segundo Período Intermediário
Por
volta de 1 785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio
enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade de Aváris assumiram o controle da região e
forçaram o governo central a se retirar para Tebas, onde o faraó era tratado como um
vassalo e era obrigado a pagar tributo. Os hicsos (Heka-khasut, governantes estrangeiros)
imitaram o modelo de governo egípcio e se apresentaram como faraós, integrando
elementos egípcios na sua cultura da Idade do Bronze Médio.Introduziram também elementos
novos na civilização egípcia como o cavalo, os carros de guerra, novos
métodos de fiação etecelagem e novos
instrumentos musicais.
Mapa
da extensão territorial máxima do Antigo Egito (século XV a.C.).
Depois
da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os
aliados núbios dos hicsos, os cuchitas, no sul. Após anos
de inatividade, Tebas reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um
conflito que duraria mais de 30 anos, até1 555 a.C. Os faraós Taá II e Kamés acabaram por derrotar os núbios,
mas foi o sucessor de Kamés, Ahmés, que empreendeu com sucesso uma série de
campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. No Império Novo que se seguiu, o poder
militar se tornou uma prioridade central para os faraós, que procuraram
expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo do Oriente Próximo.
Império Novo
Os
faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem
precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com
seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando de Tutmés I e seu neto Tutmés III, alargaram a influência dos
faraós para o maior império que o Egito já havia visto.Quando Tutmés morreu
em 1 425 a.C., o Egito prolongava-se desde Niya no
norte da Síria até à quarta catarata do Nilo,
na Núbia, cimentando fidelidades e abrindo
caminho para importações essenciais como bronze e madeira.Os faraós do Império Novo
iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o
deus Amon, com culto assente em Karnak. Também construíram monumentos
para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A
faraó Hatchepsut usou tais meios como
propaganda para legitimar sua pretensão ao trono. Seu reinado bem sucedido foi
marcado por expedições comerciais a Punt,
um elegante templo mortuário,
um par de obeliscos colossais e uma capela em Karnak. Apesar de suas realizações,
o sobrinho e enteado de Hatchepsut, Tutmés III tentou fazer desaparecer
o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela
usurpação do seu trono.
Sob Tutmés IV (1 397-1 388
a.C.) o Egito realizou uma aliança com Mitanni para empreender ataques contra
os hititas. Com Amenófis III foram edificados os
templos de , o palácio de Malaqata e
o Templo
de Milhões de Anos, do qual atualmente só restam os conhecidos
"Colossos de Memnon",
além do templo de Amon em Karnak ter sido ampliado. Durante seu reinado,
colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis III assegurar
relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por
meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais.
Cerca de 1 350 a.C., a estabilidade do Império Novo foi ameaçada
quando Amenófis IV subiu
ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o
seu nome para Akhenaton (O Esplendor de Aton), decretou
como a divindade suprema o até aí obscuro deus sol Aton,
suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado. Mudando a capital para a nova
cidade de Akhetaten (Horizonte de Áton, atual Amarna), Akhenaton tornou-se desatento aos negócios
estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Aton e pela sua personalidade
de artista e pacifista. Durante seu reinado as
relações comerciais com o Mar Egeu (minoicos e micênios)
são cortadas e os hititas começam a
fazer perigar a soberania egípcia na Síria. Após sua morte, o culto de
Aton foi rapidamente abandonado, e os faraós Tutankhamon, Ay e Horemheb apagaram todas as referências
à heresia de Akhenaton, agora conhecida
como Período
Amarna.
Fragmentos
do tratado de paz entre os egípcios e hititas.
Sob Seti I, o Egito controlou revoltas e
conquistou a cidade de Kadesh e a região
vizinha de Amurru,
ambas localidades palestinas. Ramsés II, também conhecido como Ramsés,
o Grande ascendeu ao trono por volta de 1 279 a.C.,
prosseguindo a construção de um número significativo de templos, estátuas e
obeliscos; foi o faraó com a maior quantidade de filhos da história (110
filhos).Transferiu a capital do império de
Tebas para Pi-Ramsés no Delta Oriental. Ousado líder militar, Ramsés
II comandou o seu exército contra os hititas na Batalha de Kadesh em 1 274
a.C. e depois de um impasse, assinou em 1 258 a.C. o primeiro tratado de paz da história, conhecido
como Tratado
de Kadesh, onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudar
mutuamente contra inimigos internos ou externos. O tratado foi selado com o
casamento de Ramsés II e a filha mais velha do imperador Hatusil III.
A
riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial
de líbios e dos
chamados povos do mar. No
reinado de Merenptah ambos os
povos se aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também os núbios à revolta. Com a sequente derrota
dos invasores, os revoltosos acabariam por ser suplantados. Durante o reinado
de Ramsés III o
faraó conseguiu expulsar os povos do mar para fora do Egito em duas grandes
batalhas, no entanto, eles acabariam por assentar na costa palestina e durante
o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região. Entretanto é importante
lembrar que o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a
morte de Ramsés II e a subida ao trono de seu filho Merenptah, a
instabilidade política assolou o Egito. Diversos golpes de Estado
depuseram muitos faraós em pouco tempo e diversos distúrbios civis, corrupção,
revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos contribuíram para a instabilidade
interna. Como forma de ganhar popularidade, durante o início da XX dinastia foram
concedidas terras, tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos de Amon,
o que fortaleceu o poder destes, e esse poder crescente
fragmentou o país durante o Terceiro
Período Intermediário.
Terceiro Período Intermediário
Por
volta de 730 a.C., líbios vindos do oeste fragmentaram a unidade política
do país.
Após
a morte de Ramsés XI em 1 070
a.C., Smendes assumiu a autoridade sobre a
parte norte do Egito governando a partir da cidade de Tânis. O sul foi de facto controlado
pelos sumos sacerdotes de Amon em Tebas, que reconheciam Smendes apenas
formalmente. O sacerdote Piankh conseguiu deter a expansão do reino
de Cuche que havia dominado boa parte do Alto Egito.
Na
mesma época, os líbios tinham se instalado no Delta Ocidental, e os líderes destes colonos
começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta
no reinado de Shoshenk I em 945
a.C., fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca
de 200 anos. Shoshenk também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os
seus familiares em importantes cargos sacerdotais. Invadiu a Palestina durante o reinado do rei Roboão e restaurou o comércio com Biblos, aumentando a prosperidade da dinastia.
Sob Osorkon II, o Egito auxiliando os reinos
sírio-palestinos repudiou as primeiras expedições assírias. As muitas guerras civis que se
seguiram causaram a divisão do Egito em várias dinastias. O poder líbio entrou
em declínio à medida que duas dinastias rivais surgiram, uma centrada em Leontópolis (XIII dinastia)
e outra em Saís (XXIV dinastia).
No entanto, a constante ameaça cuchita do sul forçou a união das três dinastias
com vista à sua defesa. Por volta de 727 a.C., o rei cuchitaPié derrotou
um exército de oito mil soldados egípcios, invadiu o norte, tomou o controle
de Tebas e
do Delta, e formou
a XXV dinastia.
O
prestígio secular do Egito diminuiu consideravelmente durante o final do Terceiro
Período Intermediário. Os seus aliados estrangeiros ficaram sob a
esfera de influência assíria, e em 700
a.C.a guerra entre os dois estados tornou-se inevitável. O faraó Chabataka empreendeu uma batalha contra
os assírios da qual sairia vitorioso. O seu sucessor, Taharka, incentivou revoltas na Palestina
assíria, tendo conseguido expulsar os assírios das imediações em 673 a.C. No entanto, entre 671
e 667 a.C., os assírios iniciaram ataques contra o Egito. Os reinados dos
reis cuchitas Taharka e do seu sucessor Tanutamon foram
marcados por conflitos constantes com os assírios, contra os quais os
governantes núbios obtiveram várias vitórias. Por fim, os assírios
empurraram os cuchitas para a Núbia, ocupando Mênfis e saquearam os templos de Tebas.
Época Baixa
Estátua
de um dignitário egípcio do período Saite.
Sem
planos definitivos de ocupação, os assírios delegaram a administração do
Egito numa série de vassalos que se tornariam conhecidos como reis Saite
da XVI dinastia.
Por volta de 653 a.C., o rei Psamético I logrou expulsar os
assírios com ajuda de mercenários gregos. A influência grega expandiu-se
significativamente à medida que os gregos se concentraram na cidade de Naucratis, no Delta. A partir da nova capital
em Saís, os reis Saite, testemunharam um breve,
mas significativo ressurgimento da economia e cultura, mas em 525 a.C., os
poderosos persas aquemênidas,
liderados por Cambises II,
iniciaram uma campanha de conquista do Egito, tendo acabado por capturar o
faraó Psamético III na Batalha de Pelusa. Em seguida Cambises II
assumiu o título formal de faraó, governando o Egito a partir de Susa, deixando a região sob a administração de
um sátrapa. Algumas revoltas bem sucedidas contra
os persas marcaram o Egito no século V a.C., mas nunca foram capazes de os
derrubar de forma definitiva.
Após
a sua anexação pelo Império Aquemênida, o Egito seria aglomerado com o Chipre e com a Fenícia, na sexta satrapia dos persas aquemênidas.
Este primeiro período de domínio persa sobre o Egito, também conhecido
como XXVII dinastia,
terminou em 402 a.C.. De 380 a 343 a.C., a XXX dinastia governou
como última casa real nativa do Egito dinástico, que terminaria com o reinado
de Nectanebo II. Uma breve restauração do
domínio persa, por vezes designada como XXXI dinastia,
teve início em 343 a.C., mas pouco depois, em 332 a.C., o governante
persa Mazaces entregou
sem grande resistência o Egito a Alexandre, o Grande.
Dinastia Ptolomaica
Busto
do faraó Ptolemeu I Sóter.
Em 332
a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e foi
recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida pelos
sucessores de Alexandre, os Ptolomeus,
foi baseada no modelo egípcio e a capital estabelecida na recém-erguida cidade
de Alexandria. A cidade era uma montra do
poder e prestígio do governo grego, e tornar-se-ia um polo de cultura e ensino,
centrados na famosa Biblioteca de
Alexandria. O Farol de Alexandria iluminou
o caminho para os muitos navios que mantinham vivo o comércio com o exterior,
uma vez que a economia, assente em empresas de grande retorno económico, era a
mais alta prioridade dos Ptolomeus.
A cultura grega não pretendeu impor-se
à cultura
egípcia nativa, tendo os Ptolomeus apoiado tradições seculares
de forma a garantir a lealdade da população. Foram construídos novos templos em
estilo egípcio, apoiadas as formas de culto tradicionais, e os governantes
retratavam-se a si mesmo como faraós. Algumas tradições de ambas as
culturas foram fundidas, como deuses gregos e egípcios sincretizados em divindades híbridas,
como Serápis, e formas clássicas da escultura grega
influenciaram motivos tradicionais egípcios. Apesar dos seus esforços para
apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram contestados por rebeliões locais,
rivalidades entre famílias e pela poderosa máfia de Alexandria, formada depois
da morte de Ptolemeu IV. Além disso, à medida
que Roma dependia cada vez mais de
importações de cereais do Egito, os romanos começaram a demonstrar grande
interesse na situação política da região. Revoltas egípcias constantes,
políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios contribuíram para a
instabilidade da região, levando Roma ao envio de tropas com o objectivo de
assegurar o país como província do seu império.
Domínio romano
Um
dos retratos de Faium,
uma das tentativas de unir as culturas egípcia e romana.
O
Egito tornou-se uma província romana em 30
a.C., após a derrota de Marco Antônio e da rainha
Ptolomaica Cleópatra VII por Otaviano (posteriormente Imperador
Augusto) na Batalha de Actium. Os romanos dependiam
fortemente das remessas de cereais do Egito, e o exército romano, sob o comando
de um prefeito nomeado
pelo imperador, reprimiu revoltas, fez aplicar a cobrança de impostos, e
impediu os ataques de salteadores, que se tinham tornado um problema
significativo durante este período. Alexandria torna-se um centro
cada vez mais importante na rota de comércio com o Oriente, uma vez que em Roma havia
grande procura de mercadorias e bens exóticos e de luxo.
Embora
os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para com os
egípcios, algumas tradições foram mantidas, como a mumificação e o culto dos deuses
tradicionais. A arte de retratar as múmias floresceu e alguns dos imperadores
romanos se fizeram retratar como faraós, embora não na medida dos Ptolomeus, já
que os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam funções cerimoniais
da realeza egípcia. A administração local tornou-se romana o que tendeu a minar
a liberdade dos nativos egípcios.
A
partir de meados do século I d.C., o cristianismo se enraizou em Alexandria,
sendo visto e aceito como outro culto. No entanto, o fato de ser uma religião
inflexível e proselitista, que
procurava converter pessoas
do paganismo, ameaçando com isso as tradições
religiosas populares, levou à perseguição dos convertidos ao cristianismo, que
culminou com o grande expurgo de
Diocleciano a partir de 303. Apesar disso, o cristianismo
acabou por triunfar.Em 391 o imperador cristão Teodósio I introduziu uma legislação
que proibiu ritos pagãos e os templos foram fechados.Alexandria tornou-se palco de
grandes protestos antipagãos, com imagens públicas e privadas destruídas.Como consequência, a cultura
do Egito pagão entrou em declínio. Enquanto a população nativa continuou a usar
a sua língua, a
capacidade de ler e escrever hieróglifos, na medida em que o papel dos
sacerdotes tornou-se exímio, acabou por retroceder. Os templos eram por vezes
convertidos em igrejas ou abandonados.
No
século século IV d.C. o Império Romano dividiu-se em duas parte, e o
Egito tornou-se parte do Império Oriental, conhecido como o Império Bizantino.
O Império do Oriente tornou-se cada vez mais "oriental" em grande
estilo e suas antigas ligações com o mundo grecorromano começam a se
desvanecer. O sistema grego de governos locais por cidadãos já tinha
desaparecido completamente. Em 616 o rei sassânida Khosrow II conquistou o Egito, cujo controle seria retomado
pelos bizantinos em 628 sob o imperador Heráclio.
Conquista árabe
Mapa
detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito.
Em
639, Amr ibn al-As, um
general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens ataca o Egito bizantino
em meio ao expansionismo árabe do século
VII. Inicialmente toma Mênfis e toma o
controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho
para a capital da província, Alexandria. Após tais vitórias, seu exército
recebe reforços de soldados que interessaram-se pelo butim, alcançando cerca
de 20 000 homens. Amr estabeleceu seu acampamento nas cercanias
da cidade de Heliópolis (local
onde posteriormente seria fundada a cidade do Cairo)
de onde pode enviar suas tropas de assédio à
cidade. Em 640 sitia Alexandria. A cidade é defendido por uma força de cerca
de 50 000homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se,
abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos
reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646.
Após
a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe
começou a materializar-se, tendo durado até ao século IX. Os árabes
impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, o jizya. Noséculo VII d.C. os
árabes começam a empregar o termo quft para descrever o povo
do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos como coptas, e a Igreja Egípcia Não-Calcedônia tornou-se a Igreja Copta.
Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram
arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia
sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam a língua copta, uma descendente direta do egípcio demótico falado
na época romana..
Geografia
Embarcação
egípcia retratada em baixo relevo.
A
civilização egípcia se desenvolveu na região situada entre a primeira catarata do Nilo(Assuão) e o Delta do Nilo. O Sinai,
que só pertenceu ao Egito após sua conquista no Império Novo, foi utilizado como rota de
comunicação para o corredor sírio-palestino, que a rigor seria a faixa de terra
litorânea que liga o Egito à Mesopotâmia. A leste do Nilo encontra-se
o Deserto Oriental
Africano (comumente conhecido como Deserto Oriental) que estende-se
até ao Mar Vermelho e
a oeste fica o Deserto da Líbia (comumente
conhecido como Deserto Ocidental) onde existem vários oásis dos quais se
destacam os de Siuá,Kharga, Farafra, Dakhla e Bahareia.
O atual território do Egito não pode ser comparada
ao do Antigo Egito, pois, atualmente, o Sinai, e partes dos desertos Oriental e
Ocidental estão dentro dos limites do Egito.
Ao
sul da primeira catarata se localizava a Núbia.
O Nilo é formado por dois
afluentes principais, o Nilo Branco (que
nasce no Lago Vitória) e
o Nilo Azul (que nasce no Lago Tana). Ambos os afluentes unem-se
em Cartum.O Nilo corre de sul para
norte, desaguando no Mar Mediterrâneo e
sua extensão é de aproximadamente 6 740 km.
No
Antigo Egito distinguiam-se duas grandes regiões: o Alto Egito e o Baixo Egito. Inicialmente o Alto e Baixo Egito
eram reinos distintos que haviam se formado em torno de3 300 a.C. No
entanto, acabaram por ser unificados poucos séculos depois. O Alto Egito (Ta-chemau)
era uma estreita faixa de terra com cerca de 900 km de extensão começando
em Assuão e terminando em Mênfis. O Baixo Egito (Ta-mehu) foi o
Delta do Nilo, a norte de Mênfis, onde o rio se dividia em vários braços. Por
vezes também se distingue na geografia egípcia uma região conhecida como
o Médio Egito, que é o
território a norte de Qena até
à região do Faium.
Vale do rio Nilo.
O
historiador grego Heródoto (c,
484?-420 a.C.), chamou ao Egito "a dádiva do Nilo". Para os egípcios, o Nilo era
uma verdadeira bênção dos deuses, sendo considerado sagrado e
adorado como um deus, ao qual dedicavam hinos e orações. As chuvas sazonais
causavam enchentes que depositavam húmus nas margens favorecendo a
agricultura e pecuária; também fornecia água fresca, peixes, aves aquáticas
além de servir para o transporte e comércio Como o nível do rio era
inconstante os egípcios desenvolveram diques, barragens e canais de
água para melhor aproveitarem as águas do rio, assim como o "nilômetro", uma construção usada para
medir as enchentes.Durante o período das
enchentes os cidadãos eram deslocados para as cidades para trabalharem em
outras tarefas.
O
meio mais fácil e rápido de viajar e transportar cargas pesadas era através de
embarcações de diversos tamanhos que possuíam, no geral, remos presos
a proa.As embarcações usadas para
transporte de cargas pesadas eram construídas com madeira do Líbano; as de transporte de pessoas, caça e
pesca eram de junco; as barcaças reais a as usadas para o
transporte de estatuetas de deuses possuíam cabines, e eram decoradas com
muitas cores e ouro encrustado. O Nilo corre de sul para
norte, mas o vento sopra geralmente de norte para sul, pelo que a navegação
para para norte tem a corrente a seu favor e a navegação para sul é feita a
favor do vento, o que era é aproveitado para utilizar velas. No entanto, na ausência de vento
causava, a única forma de navegar para sul é remar contra a corrente.
Demografia
Estereótipo
egípcio.
Os
antigos egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se
fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, da África Negra e
da área semítica. A questão relativa à etnia dos
antigos egípcios é por vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos
conhecimentos da ciência falar de raças humanas revela-se um anacronismo. Até meados do século XX,
por influência de uma visão eurocêntrica, os antigos egípcios eram
considerados praticamente como brancos; a partir dos anos 1950, as teorias do
"afrocentrismo", segundo as quais os
egípcios eram negros, afirmaram-se em alguns círculos. Importa também referir
que as representações artísticas são frequentemente idealizações que não
permitem retirar conclusões neste domínio.
Os
egípcios tinham consciência da sua alteridade: nas representações artísticas
dos túmulos os habitantes do Vale do Nilo surgem com roupas de linho branco,
enquanto que os seus vizinhos líbios e semitas se apresentam com roupas
de lã. A língua dos egípcios (hoje
uma língua morta) é
um ramo da família das línguas
afro-asiáticas (camito-semíticas). Esta língua é conhecida
graças à descoberta e decifração da Pedra de Roseta, onde se encontra inscrito
um decreto de Ptolomeu V
Epifânio(205-180 a.C.) em duas línguas (egípcio e grego clássico)
e em três escritas (caracteres hieroglíficos,escrita demótica e alfabeto grego).
O
número de habitantes do Antigo Egito variou ao longo da história. Durante
o período
pré-dinástico(4 500-3 000 a.C.) a população rondaria as
centenas de milhares; durante o Império Antigo (séculosXVII-XII a.C.)
situar-se-ia nos dois milhões, atingindo os quatro milhões por altura do Império Novo. Quando o Egito se tornou
uma província
romana estima-se que a população seria cerca de sete milhões.
Como atualmente, a esmagadora maioria da população habitava as terras agrícolas
situadas nas margens do Nilo, sendo escassas as
populações que viviam no deserto.
Governo
Administração
O faraó era geralmente representado
usando símbolos da realeza e de poder.
Estátua de
um escriba sentado (IV dinastia,
c. 2 620-2 500 a.C.)
O faraó era o monarca absoluto do país e, pelo menos
em teoria, exercia o controle total da terra e seus recursos. Era o comandante militar
supremo e chefe do governo, que contava com uma burocracia de funcionários para
gerenciar seus negócios. O encarregado da administração, o vizir (tjati),
era o segundo no comando, e atuava como conselheiro, representante do faraó,
coordenava os levantamentos fundiários, tesouraria, projetos de construção, sistema
legal e depósito de documentos. Ao nível regional, o país
estava dividido em 42 regiões administrativas chamadas nomos,
cada uma governada por um nomarca, que era responsável
pela jurisdição do
vizir. Os templos formavam
a espinha dorsal da economia. Eles não só eram edifícios
de culto, mas também eram responsáveis por coletar e armazenar a
riqueza da nação em um sistema de celeiros e tesourarias administradas
por superintendentes, que redistribuíam os cereais e os bens. Como não era possível para
o faraó estar em todos os templos para realizar as cerimônias, ele delegava o
seu poder religioso aos sacerdotes, que conduziam as cerimônias em seu nome.
Sistema jurídico
A
cabeça do sistema jurídico era oficialmente o faraó, que era responsável pela
promulgação de leis, aplicação da justiça e manutenção da lei e da ordem, um
conceito que os egípcios antigos denominavam Ma'at.
Apesar de não terem chegado aos nossos dias quaisquer códigos legais do
Antigo Egito, documentos da corte mostram que as leis egípcias foram baseadas
em uma visão de censo comum de certo e errado, que enfatizou a celebração de
acordos e resoluções de conflitos ao invés de cumprir rigorosamente um conjunto
complicado de estatutos.Conselhos locais de
anciãos, conhecidos como Kenbet no Império Novo, eram responsáveis pela
decisão em casos judiciais de pequenas causas e disputas menores. Os casos mais graves
envolvendo assassinato, grandes transações de terrenos e roubo de túmulos eram
encaminhados para o Grande Kenbet, presidido pelo vizir ou pelo
faraó. Os demandantes e demandados representavam-se a si próprios e eram
obrigados a jurar que diziam a verdade. Em alguns casos, o Estado assumiu tanto
o papel de acusador como o de juiz, e tinha poder para torturar os acusados com
espancamento para obter uma confissão e os nomes dos co-conspiradores. Se as
acusações fossem sérias, escribas da corte documentavam a denúncia,
testemunhavam, e o veredicto do
caso era guardado para referência futura.
As
punições para crimes menores envolviam imposição de multas, espancamentos,
mutilações faciais ou exílio, dependendo da gravidade do delito. Crimes graves,
como homicídio e roubo de túmulos, eram punidos com execução por decapitação, afogamento ou empalamento. A punição também podia ser
estendida à família do criminoso. A partir do Império Novo,
os oráculos desempenharam um papel importante
no sistema jurídico, dispensando a justiça nos processos civis e criminais. O
processo consistia em pedir a Deus um "sim" ou "não" sobre
o que era certo ou errado num problema. O deus, transportado por um número de
sacerdotes, proferia a sentença, escolhendo um ou outro, movendo-se para a
frente ou para trás, ou apontando para uma das respostas escritas em um pedaço
de papiro ou de óstraco.
Força militar
O
exército egípcio antigo foi responsável pela defesa do Egito contra invasões
estrangeiras e a manutenção da dominação egípcia no Antigo Oriente Próximo. No deserto havia
patrulheiros que vigiavam as fronteiras e defendiam o império de expedições
de nômades. No Delta e no Vale do Nilo havia
guardas rurais que defendiam os cobradores de impostos. No Império Novo
surgiram os medjayu, de origem núbia, que exerciam a função de
patrulheiros do deserto, policiais das cidades e necrópoles, além de aplicadores das
decisões da justiça. O exército e a marinha
egípcias eram complementares, onde os navios transportavam as tropas e os
oficiais exerciam funções militares e navais. Os soldados eram recrutados entre
a população em geral, mas durante e principalmente depois do Império Novo,
foram contratados mercenários da
Núbia e Líbia para lutar pelo Egito.Prisioneiros de guerra
também foram incorporados ao exército egípcio. Por volta do Império Novo os
exércitos eram divididos em unidades táticas autônomas de cinco a seis mil
homens.
Uma biga egípcia.
Os
exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas
locais durante o Império Antigo e lutaram em guerras civis
durante o Primeiro e Segundo
Períodos Intermediários. Foram importantes para a manutenção de
fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as
encontradas na cidade de Buhen no
caminho para a Núbia. Também foram construídos fortes nas fronteiras com
guarnições de 50 a 100 homens, para servirem como bases militares, tais como a fortaleza
de Sile, a qual foi uma base de operações para expedições no Levante.
No Império Novo, uma série de faraós usaram o exército para atacar e
conquistar Cuche e partes do Levante.Há informações que alegam
que houve a prática de espionagem entre
os exércitos egípcios.
Os
equipamentos militares típicos incluíram arcos e flechas de sílex, machados, clavas,lanças de cobre e escudos redondos feitos por estiramento de
pele de animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares
começaram a usar bigas e cavalos que haviam sido
introduzidos pelos invasores hicsos durante o
Segundo Período Intermediário.As armas e armaduras continuaram a melhorar com a
introdução do bronze: os escudos eram agora feitos de
madeira sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e
o khopesh,
uma espécie de espada com a extremidade curva, foi
adotado a partir de modelos asiáticos. O faraó foi geralmente
representado na arte e na literatura andando à frente do exército e há
evidências de que pelo menos alguns faraós, como Taá II e seus filhos, o fizeram.
Economia
Agricultura
Pintura mural de
um túmulo retratando trabalhadores arando os campos, a colheita das culturas e
a debulha de cereais sob a direção de um supervisor.
Uma
combinação de características geográficas favoráveis contribuiu para o sucesso
da cultura egípcia, a mais importante das quais era o solo fértil resultante de
enchentes anuais do Nilo. Os antigos egípcios foram, assim, capazes de produzir
alimentos em abundância, permitindo que a população dedicasse mais tempo e
recursos a atividades culturais, tecnológicas e artísticas. A gestão da terra
foi crucial no Antigo Egito, porque os impostos foram avaliados com base na
quantidade de terras em posse de uma pessoa. Em teoria todas as terras
pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade.
A
agricultura no Egito foi dependente dos ciclos de cheias do Rio Nilo. Os egípcios
reconheceram três estações: Akhet (inundação), Peret (plantio)
e Shemu (colheita). A estação das cheias dura
de julho a outubro, depositando nas margens do Nilo uma camada de lodo rico
em minerais para o cultivo. Após a redução do nível do rio, a estação de plantio ia
de novembro a fevereiro. Agricultores aravam a terra com arados puxados
por bois e plantavam as sementes, que eram
irrigadas por intermédio de sistemas de diques e canais. O Egito recebia pouca
chuva, pelo que os agricultores usavam a água do Nilo para regar as culturas. De março a junho, os
agricultores usavam foices para suas
colheitas, que eram depois debulhadas com
um mangual ou com as patas dos bois para
separar a palha do grão. Os grãos eram usados
para fabricar cerveja ou
armazenados em sacas nos celeiros reais para posterior distribuição.
Os
antigos egípcios cultivaram trigo, cevada e vários outros cereais, todos usados para produção de pão, biscoitos,
bolos e cerveja.O linho,
colhido antes da floração, foi
cultivado para extração da fibra de seu caule para produção de roupas; algodão também foi cultivado. O papiro que cresce nas margens do Nilo era usado
para fazer suporte de escrita. Legumes (pepino, cebola) leguminosas (feijão, fava, grão-de-bico, lentilha,alfarroba), verduras (alface), condimentos (alho, alho-poró, alecrim, gergelim, orégano, tomilho) e frutas (tâmara, melancia, melão,maçã, romã, laranja, banana, limão, pêssego, figo, jujuba, uva) foram cultivadas em
hortas perto das casas em solo elevado, e tiveram de ser regadas manualmente;
houve produção de vinho. Foi ainda evidenciada a
presença do cultivo de papoula e mirto.
“
|
Assim era praticada a horticultura, sendo
produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e legumes; também
eram plantadas árvores frutíferas e videiras. (...) O Egito era um dos
"formigueiros humanos" do mundo antigo, em virtude da sua
extraordinária fertilidade renovada anualmente pelos aluviões [cheias] do Nilo. Sendo a
vida agrícola inteiramente dependente da inundação, quando esta faltava ou
era insuficiente ocorria a fome - apesar das reservas acumuladas pelo Estado
- e morriam milhares de pessoas. Temos muitos documentos escritos (e às vezes
pictóricos) que se referem a tais épocas calamitosas. Numa delas, (...)
segundo parece, houve casos de canibalismo.
|
”
|
|
— Ciro
Flamarion S. Cardoso. O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense,
1986.,
|
Criação animal
Rebanho de
bovinos.
Os
egípcios acreditavam que uma relação equilibrada entre pessoas e animais era um
elemento essencial da ordem cósmica e que por conseguinte os animais e plantas
eram membros de um todo. Animais, tanto domésticos como selvagens, foram,
portanto, uma fonte essencial de espiritualidade, companheirismo, e sustento.
Os bovinos foram os animais mais importantes; a administração coletava impostos
sobre o gado nos censos regulares, e o tamanho de um rebanho refletia o
prestígio e a importância da propriedade ou do templo que o possuía. Além do
gado, os antigos egípcios apascentavam caprinos, ovinos e suínos. Aves como patos, gansos e pombos eram capturados em redes e
criados em fazendas, onde eram alimentados à força com massa para engordá-los. As abelhas também foram domesticadas, pelo menos desde o
Império Antigo, e forneciam tanto mel como cera. Também foram domesticados hienas e guepardos para a caça.
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Os
egípcios usavam burros e bois como animais de carga e
para lavrar os campos e debulhar as sementes. O abate de um boi gordo era
também uma parte central de um ritual de oferenda. Os cavalos foram
introduzidos pelos hicsos no Segundo
Período Intermediário, e o camelo, apesar de ser conhecido a partir do Império Novo, não foi usado como um animal
de carga até à Época Baixa. Há
também evidências que sugerem que os elefantes foram brevemente utilizados na
Época Baixa, mas praticamente foram abandonados devido à falta de pastagens. Cães, gatos e macacos eram
animais comuns de estimação, enquanto animais de estimação mais exóticos
importados do coração da África, como leões,
estavam reservados para a realeza. Heródoto observou que os egípcios eram
o único povo que mantinha os seus animais em suas casas. Durante o período
pré-dinástico e nos períodos posteriores, o culto dos deuses em
sua forma animal era extremamente popular, como a deusa gata Bastet e o deus íbis Thoth.
Esses animais foram criados em grande número nas fazendas a fim de serem
sacrificados.
Para
complementar a sua dieta, os egípcios caçavam lebres, antílopes, aves, hipopótamos e crocodilos por meio de redes, arcos e
lanças, assim como pescavam carpas, pescadas (no
Delta) e, especialmente, tilápias com o emprego de anzóis e arpões; os peixes eram desidratados ao sol
para conservação.
“
|
Os egípcios foram muito ativos nas suas
tentativas de domesticação de animais (...) Chegavam a experimentar hienas,
antílopes, grous e pelicanos! O gado maior - bois, asnos,
(...) - servia em primeiro lugar para puxar o arado, para separar os grãos da
palha e para o transporte. O cavalo era usado para puxar carros, e não
montado. Vacas e bois eram usados também para a alimentação (carne, leite) e
sacrificados aos deuses. (...) O gado menor compreendia ovelhas, cabras e
porcos.
(...) A agricultura e a criação eram complementadas pela pesca (...), praticada no Nilo, nos pântanos e nos canais com rede, anzol, nassa e arpão. Boa parte dos peixes era secado ao sol. Também a caça era praticada no deserto e nos pântanos, usando-se para tal o cão, o arco e o laço, e capturando-se aves selvagens com redes. |
”
|
|
— Ciro
Flamarion S. Cardoso. O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense,
1986.,
|
Mineração
O Mapa de Turim descreve as minas de
Wadi Hammamat e é o mapa de cunho topográfico conhecido mais antigo.
O
Egito é rico em pedras de decoração e construção, cobre e minérios de chumbo, ouro e pedras semipreciosas.
Estes recursos minerais permitiram
aos egípcios construir monumentos, esculpir estátuas, fazer ferramentas e joias.Os embalsamadores utilizavam sais de Wadi El Natrun (natrão) para mumificação, que também proporcionou agipsita necessária para fazer gesso. Formações rochosas de
minérios foram encontradas em barrancos inóspitos e distantes do Deserto
Oriental e no Sinai, exigindo grandes expedições controladas pelo Estado para
obter os recursos naturais ali encontrados. Havia extensas minas de ouro na Núbia, e um dos primeiros mapas conhecidos
é de uma mina de ouro na região. Wadi Hammamat foi uma importante fonte
de granito, grauvaque e ouro. O sílex foi o primeiro mineral coletado
e usado para fazer ferramentas e machadinhas de pedra. Nódulos do mineral eram
cuidadosamente lascados para fazer lâminas e pontas de flechas, mesmo depois
do cobre passar a ser usado para essa
finalidade.
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Os
egípcios trabalharam em depósitos de minério de chumbo e galena em Gebel Rosas para fazer chumbo
líquido, prumos e pequenas figuras. O cobre foi
o material mais importante para a fabricação de ferramentas no Antigo Egito e
foi fundido em fornos de minério de malaquita e turquesa extraídas do Sinai. Através de lavagem, eram
coletadas pepitas de ouro de sedimentos de
depósitos aluviais. Outro processo para obter ouro, mais trabalhoso, era a
moagem e lavagem de quartzito de
ouro. Depósitos de ferro encontrados no norte do Egito, foram utilizados
na Época Baixa. Pedras de construção de
alta qualidade eram abundantes no Egito; os antigos egípcios extraíram calcário ao longo do Vale do
Nilo, granito de Assuão e basalto e arenito dos barrancos do Deserto
Oriental. Depósitos de pedras decorativas, tais como pórfiro, quartzo, feldspato verde, ágata, diorito, grauvaque, berilo, alabastro e cornalina pontilhada dos desertos
oriental e ocidental foram coletadas antes mesmo da primeira dinastia. Nos
período ptolomaico e romano, os mineiros trabalharam em jazidas de esmeraldas de Wadi Sikait e ametista em Wadi el-Hudi.
Comércio
Pesos egípcios
em forma de animal.
Grande
parte da economia estava organizada a nível central e era estritamente
controlada. Embora os antigos egípcios nãomoedas utilizassem moedas até
à Época Baixa,
fizeram uso de um sistema de troca monetária, com sacas de grãos como
valor padrão e o deben,
um peso de cerca de 91 gramas (3 oz) de cobre ou prata, formando um denominador
comum. Os trabalhadores eram pagos com grãos; um simples operário podia ganhar
5½ sacas (250 kg ou 400 lb) de grãos por mês, enquanto um capataz
podia ganhar 7½ sacas (340 kg). Os preços eram fixados em todo o país e
registrados em listas para facilitar a negociação. Por exemplo, uma camisa
custava cinco deben de cobre, enquanto uma vaca custava 140deben.
Grãos podiam ser trocados por outras mercadorias, de acordo com a lista de
preço fixo. Durante o século V
a.C. o dinheiro foi
introduzido no Egito por estrangeiros. As primeiras eram usadas como peças
padronizadas de metais preciosos e não como dinheiro propriamente dito, mas nos
séculos seguintes as trocas internacionais passaram a depender das moedas.
Os
antigos egípcios estiveram envolvidos no comércio com os povos vizinhos para
obter mercadorias raras e exóticas não encontradas no Egito. No período
pré-dinástico, estabeleceram o comércio com a Núbia para a obtenção de ouro, plumas de avestruz, peles de leopardo, incenso e marfim. Também estabeleceram o
comércio com a Palestina, como
evidenciado por jarros de óleos de estilo palestino encontrados nas sepulturas
dos faraós da primeira dinastia.Uma colônia egípcia
fundada no sul de Canaã foi anterior à
primeira dinastia.Na época de Narmer foi produzida cerâmica egípcia em Canaã, que
era exportada para o Egito.
Em
meados da segunda dinastia, o contato do Antigo Egito com Biblos rendeu um intenso comércio de madeira de boa
qualidade não encontrada no Egito. Durante a quinta dinastia, o comércio
com Punt abastecia o Egito com ouro,
resinas aromáticas, ébano, marfim e animais
silvestres, como macacos e babuínos. Houve também comércio com
a Anatólia para adquirir estanho e para o fornecimento
suplementar de cobre, dois metais necessários para a
fabricação de bronze. Os antigos egípcios valorizaram a
pedra azul lápis-lazúli, que
tinha de ser importada do Afeganistão. Os parceiros do Egito no
comércio mediterrãnico também
incluíram Creta e
a Grécia, que forneciam, entre outras
mercadorias, azeite. Em troca de suas
importações de luxo e de matérias-primas, o Egito exportava principalmente
grãos, ouro, linho e papiro, além de outros produtos acabados, incluindo
objetos de vidro e pedra.
Sociedade
Um casal egípcio
sentado.
A
sociedade egípcia antiga apresentava uma estrutura fortemente hierarquizada. Erapatriarcal, com o homem administrando o
lar, com participação da mulher, e decidindo os herdeiros através de seu
testamento. Os anciãos eram consultados e honrados após a morte. O casamento no mundo
egípcio era monogâmico (embora
haja casos de bigamia e poligamia na corte faraônica) e não
era sancionado pela religião. Não existia uma cerimônia de casamento, nem um
registro deste. Aparentemente bastava um casal afirmar que queria coabitar para
que a união fosse aceite. Os homens casavam entre os dezesseis e os dezoito
anos e as mulheres por volta dos doze, catorze anos. Por serem as mulheres as
transmissoras do sangue real, como forma de legitimação do poder, houve
casamentos entre irmãos. Também houve casamentos entre faraós e uma de suas
filhas. Os homens com uma posição
econômica mais elevada poderiam ter, para além da esposa legítima (nebet-per,
"a senhora da casa"), várias concubinas, o que era visto como um sinal
de riqueza. No entanto, as mulheres que tivessem mais de um homem eram mortas.
A prostituição era uma prática
moralmente condenada, mas foi praticada nas margens do Nilo. Foram registrados
em papiros e óstracos a prática de favores sexuais
em troca de dinheiro, bem como menção a relações sexuais coletivas, o que leva
considerar a possibilidade da existência deprostíbulos. No Egito não houve
prostituição sagrada, sendo a relação divindade-sacerdotisa, meramente
simbólica.
Os
antigos egípcios viam homens e mulheres, incluindo as pessoas de todas as
classes sociais, exceto os escravos, como essencialmente iguais perante a lei,
e até mesmo o mais humilde camponês tinha direito de petição ao vizir e
sua corte para reparação. Tanto homens quanto mulheres tinham o direito de
possuir e vender imóveis, fazer contratos, se casar e se divorciar, receber herança e ter litígios
em tribunal. Os casais podiam possuir bens em conjunto e protegerem-se com
contratos de casamentoem caso de
divórcio, que estipulavam as obrigações financeiras do marido para com a esposa
e com as crianças ao final do casamento. As mulheres egípcias tinham uma grande
gama de escolhas pessoais e oportunidades de realização. Podiam ser da realeza,
trabalhar no palácio como amas-de-leite, concubinas ou escançãs (servidoras de vinho do
faraó) e, nos templos, desde cantoras a sacerdotisas.[196] Outras exerciam poderes
divinos como esposas
de Amon. Apesar destas liberdades, as mulheres egípcias antigas,
muitas vezes não participavam em papéis oficiais da administração, servindo
apenas em papéis secundários, e não foram tão susceptíveis de serem educadas
tal como os homens.
Quando
o marido falecia, as mulheres assumiam a chefia familiar e, no caso dos faraós,
o Estado. Mulheres como Hatshepsut eCleópatra chegaram a tornar-se faraós.
As mulheres podiam receber herança paterna. Normalmente, o filho mais velho
assumia o trono faraônico após a morte de seu pai, no entanto, quando só havia
filhas como sucessoras ao trono, a mais velha deveria casar para seu marido
assumir o trono.
Arte erótica
egípcia.
“
|
Seja como for, (...) a mulher egípcia era sui
juris, podendo dispor livremente de seus bens, intentar processos na
justiça, tomar a iniciativa do divórcio tanto quanto o homem, desempenhar um
papel ativo em diversas atividades produtivas, de serviços e eventualmente de
gestão, emfim ir e vir com ampla liberdade. Havia, sem dúvida, certas
limitações. Assim, por exemplo, se noséculo III a.C. achamos mulheres que desempenham
funções administrativas ou sacerdotais das quais dependem bens e pessoas
pertencentes ao palácio e aos templos, isto diminui muito nos períodos
posteriores. Mesmo para o Império Antigo, a presença de mulheres naquelas
funções sempre foi quantitativamente muito inferior à dos homens. Em outras
palavras, a direção da vida pública sempre esteve maciçamente em mãos
masculinas; e tal tendência se fortaleceu com o tempo.
Na vida privada, porém, em termos gerais,
mantiveram-se os amplos direitos da mulher: igual participação na herança
paterna e materna, controle sobre os seus bens pessoais (mesmo quando geridos
pelo marido, situação bastante corrente), etc. É certo, entretanto, que a
mulher era encarada como tendo uma vocação essencialmente doméstica (...)
ligada seja à administração da casa (...), seja à realização de tarefas no
seu âmbito: fabricação de pão e cerveja, manufatura de fios e tecidos. (...)
Com maior frequência, era o homem que intervinha em transações e, em geral,
na gestão do patrimônio familiar, embora a intervenção direta da mulher fosse
considerada algo normal em muitos casos, por exemplo, ao estar ausente o
marido, ou na sua incapacidade, ou ainda durante a viuvez, sendo os filhos
menores.
|
”
|
|
— Ciro
Flamarion Cardoso Algumas visões da mulher na literatura do Egito
faraônico (milênioII a.C.). Citado em: História. São
Paulo: UNESP, 1993, v. 12. p. 103-5.,
|
Hierarquia social
O faraó representava a própria vida do
Egito, sendo o topo da hierarquia da nação. Na foto estátua de Tutmés III, no Museu Egípcio do Cairo.
No
topo da hierarquia social estava o faraó, que possuía poderes absolutos,
tomando decisões militares, religiosas, econômicas e judiciais, além de ser o dono nominal
de todas as terras.Nos períodos de cheia o
faraó ordenava que a população exercesse outras funções como, por exemplo, a
construção de obras públicas. Enquanto vivo, o faraó era
encarado como uma personificação do deus Hórus, enquanto que seu antecessor falecido
era associado a Osíris, pai de Hórus,
houvesse ou não relação consanguínea entre os soberanos. A partir da V dinastia os
reis apresentam-se também como filhos de Rá,
o deus solar.
Os
faraós possuíam muitas mulheres e filhos. Sua mulher principal,
denominada hemet nesut, "esposa do rei", podia ser sua
irmã ou uma de suas filhas. Os faraós possuíam diversas insígnias: opschent (a
união das coroas do Alto e Baixo Egito), os cetros crossa e chicote, o nemés (ornamento
para cabeça decorado com uma cobra e um abutre que simbolizavam,
respetivamente, o Baixo e Alto Egito) e a barba postiça. Podia ser
simbolicamente representado como uma esfinge, e era associado a animais como a
pantera, o leão e o boi. A palavra faraó, vinda do egípcio per aâ,
significa "Casa Grande". Tornou-se o nome oficial dos líderes do
Egito apenas durante aXVIII dinastia,
pois até então habitualmente os líderes referiam-se a si mesmos como nesu (rei)
ouneb (senhor). A partir da V dinastia a titulatura dos
reis incluía cinco nomes reais: nome de Hórus, nome das Duas Mestras, nome de Hórus
de Ouro, prenome e nome.Abaixo
do faraó e de sua família na pirâmide social encontrava-se o grupo denominado
como "classe do
saiote branco" (ou classe dos dominantes), em referência ao vestuário de
linho decorado que trajavam. Primeiramente vinham os nomarcas
e vizires. Os nomarcas administravam as províncias imperiais enquanto os
vizires controlavam o arrecadamento de impostos, fiscalizavam as obras
públicas, os celeiros reais, participavam do alto tribunal de justiça e
chefiavam a polícia e as tropas. Abaixo destes estavam os sacerdotes que
administravam os templos, cultos e as festas religiosas, eram conselheiros dos
faraós e usufruíam de terras, isenção de impostos e prestígio. Muito
importantes para a máquina burocrática do governo, os escribas cobravam impostos,
organizavam as leis e a escrita, determinavam o valor das terras, copiavam
poemas, hinos e histórias, escreviam cartas, realizavam censos populacionais e
calculavam os estoques de alimentos, produção agrícola, área de terras aráveis,
atividades comerciais, de soldados, necessidades do palácio, etc. A partir do
Império Novo surge uma nova classe, os grandes comerciantes, que monopolizavam
o comércio exterior.
Espancamento de
um escravo.
Abaixo
das classes dominantes situavam-se as classe dominadas. Primeiramente vinham os
soldados que recebiam produtos por serviços prestados e tomavam espólios
de saques, mas que nunca ascendiam a altos
postos no exército. Abaixo destes vinham os artesãos(tecelões, pintores, barbeiros, cozinheiros,
barqueiros, ceramistas, escultores, joalheiros,ferreiros, etc.), que trabalham
especialmente para os faraós, para a nobreza e para os templos e para os
pequenos comerciantes que vendiam seus produtos nos mercados das cidades. Os
camponeses (ou félas) formavam a maior parte da população e eram
agricultores, pecuaristas e pescadores. Mesmo sendo eles os produtores, os
produtos agrícolas eram propriedade direta do Estado, dos templos ou da família
nobre que possuía a terra.Os camponeses também
estavam sujeitos a um imposto sobre o trabalho e eram obrigados a trabalhar na
construção de obras públicas e limpeza de canais em um sistema similar à corveia medieval na Europa.Também eram obrigados a
trabalhar nos transportes e por vezes no exército. Abaixo dos camponeses vinha
a base da pirâmide, os escravos (hemu e/ou baku). Cativos ou condenados da
justiça, trabalhavam em atividades domésticas, públicas ou religiosas.Gozavam de direitos civis e
aprendiam a escrita egípcia.
Vida cotidiana
A
maioria da população era constituída por agricultores ligados à terra. Suas
habitações eram restritas aos membros imediatos da família, e foram construídas
com tijolos de barro destinadas a manter o
frescor no calor do dia. Cada casa tinha uma cozinha com teto aberto, o qual
continha uma pedra de moinho para moagem
de farinha e um pequeno forno para cozer pão. As paredes eram pintadas
de branco e podiam ser cobertas com tapetes de linho tingido.
Os pavimentos eram cobertos com esteiras de
palha, enquanto que a mobília era composta de bancos de madeira, camas
levantadas a partir do piso e mesas individuais.As mães eram responsáveis
por cuidar dos filhos, enquanto o pai fornecia a renda da família.
Dançarina Egípcia
A
higiene e aparência pessoais eram tidas em grande valor. A maioria banhava-se
no Nilo e usava um sabão pastoso, o suabu, feito de gordura e giz.[208] Os homens raspavam todo o
corpo para limpeza, e usavam perfumes, óleos aromáticos e pomadas para ocultar
maus odores e manter a pele suave.[209] Os óleos eram feitos com
gordura vegetal ou animal e eram aromatizados com mirra, incenso ou terebintina. Um tipo de sal, o bed,
era usado para gargarejar. As mulheres da corte passavam por um processo mais
completo: depilavam-se, massageavam rosto e braços com pomada de mirra,
colocavam um creme verde de malaquita nas pálpebras, desenhavam uma linha
de khol preto para alongar os olhos,
colocavam pó de ocre nas bochechas e lábios e pintavam
as palmas das mãos e a sola dos pés com hena.[208]
Nefertari
jogando Senet, pintura da
tumba da Rainha Nefertari do
Egito (1 295-1 255 a.C.).
Tanto
os homens como as mulheres da classe alta usavam perucas, joias e cosméticos. Inicialmente as mulheres
tinham o costume de manter os cabelos curtos, no entanto, ao longo dos séculos
adotaram os cabelos compridos. Os homens adultos utilizavam cabelos curtos e as
crianças e os sacerdotes raspavam a cabeça. As mulheres vestiam um vestido de
linho branco e os homens uma tanga. No entanto, a população trabalhadora
habitualmente andava nua ou então usava apenas um pedaço de tecido enrolado a
cintura.[210] As crianças ficavam sem
roupas até a maturidade, cerca dos doze anos, e nessa idade os homens
eram circuncidados e
suas cabeças eram raspadas. Vizires, sacerdotes e o faraó usavam vestimentas
especiais, respetivamente vestidos, peles de panteras e tangas costuradas com
fios de ouro. No geral, havia apenas duas opções para os pés: nudez ou sandálias. Estas podiam ser de junco e
papiro amarrados com barbante (mais simples) ou de couro costurado com linha de
papiro (mais sofisticadas). Membros das classes mais elevadas da sociedade,
costumeiramente adornavam o corpo com joias. As joias também eram usadas pela
população menos abastada da sociedade por poderem se tratar de amuletos. Eram
de ouro, prata, cobre ou cerâmica, incrustadas com pedras preciosas
ou pasta de vidro colorido. Podiam ser diademas, colares, brincos, pulseiras,anéis e cintos.[208]
A música e a dança eram entretenimentos populares
para aqueles que podiam pagar por elas. Instrumentos antigos
incluíam flauta eharpas,[211] enquanto os instrumentos
semelhantes a trompetes, oboés e gaitas desenvolveram-se
mais tarde e se tornaram populares. No Império Novo, os egípcios tocavam sinos, címbalos, tamborins, e tambores e importaram alaúdes e harpas da Ásia.[212]O sistro foi um instrumento musical do tipo chocalho que era especialmente
importante em cerimônias religiosas. Os faraós possuíam uma banda preferida,
os hinodos que os acompanhavam em grandes cerimônias
religiosas. Para divertimento dos presentes em banquetes havia dançarinas que
dançavam em movimentos lentos, mímicos, que contavam lendas dos deuses e
os imitavam, epigmeus da África Central que dançavam danças
rápidas e rítmicas.[208]
Eram
praticadas diversas atividades de lazer, incluindo jogos e música. O Senet,
um jogo de tabuleiro onde as peças se mudam de acordo com o acaso, era
particularmente popular desde os primeiros tempos; outro jogo semelhante foi
o Mehen, que tinha um tabuleiro em forma
de serpente. Jogos de malabarismo, vara e
bola eram populares entre as crianças, e também está documentada luta em uma
tumba em Beni Hasan.[213] Os membros ricos da
sociedade egípcia praticavam caça e davam passeios de barco também. Havia uma
grande variedade de brinquedos infantis, todos de madeira: piões, figurinhas, bonecas, cavalinhos e
até bonecos articulados.[208]
[editar]Língua e escrita egípcia
Ver artigo principal: Língua egípcia
[editar]Desenvolvimento histórico
r n kmt
'Língua egípcia' em hieroglifos é |
||||||
|
A língua egípcia é
uma língua
afro-asiática setentrional intimamente relacionada com o berber e
as línguas semíticas.[214] Tem a história mais antiga
a seguir ao sumério),
tendo sido escrita desde 3 200 a.C. até à Idade Média, permanecendo como uma língua
falada por mais tempo. Distinguem-se as fases do egípcio
arcaico, egípcio antigo, egípcio
médio (egípcio clássico),egípcio
tardio, demótico e copta.[215] Os escritos egípcios não
apresentam diferenças antes do dialeto copta, no entanto, provavelmente
existiam dialetos orais regionais nas regiões deMênfis e, posteriormente, de Tebas.[216]
O
egípcio antigo foi uma língua sintética,
tornando-se posteriormente em uma língua mais analítica.
O egípcio tardio desenvolveuartigos prefixais
definidos e indefinidos, que substituíram os sufixos flexionais anteriores. Há uma
mudança da velha ordem Verbo Sujeito
Objeto para Sujeito Verbo
Objeto.[217] Os hieróglifos egípcios, a escrita hierática e o demótico acabaram
por ser substituídos pelo alfabeto
copta, mais fonético. O copta ainda é usado na liturgia da Igreja Ortodoxa do
Egito, e vestígios dela são encontrados noárabe egípcio moderno.[218]
[editar]Som e gramática
O
egípcio antigo tem 25 consoantes similares aos de outras línguas
afro-asiáticas. Estas incluem consoantes
faríngeas e enfáticas,oclusivas sonoras
e surdas, fricativas surdas
e africadas surdas
e sonoras. Havia inicialmente três vogais longas e três vogais curtas, que se
expandiram no egípcio tardio para cerca de nove.[219] Uma palavra básica em
egípcio, semelhante ao berber e semita, tem consoantes e semi-consoantes
de raiz triliteral e
biliteral. Sufixos são adicionados para formar palavras. A conjugação verbal
corresponde à pessoa. Por
exemplo, o esqueleto triconsonantal S-Ḏ-M é o núcleo semântico
da palavra "ouvir"; sua base conjugal ésḏm ("ele
ouve"). Se o sujeito é um substantivo, sufixos não são adicionados ao
verbo; por exemplo: sḏm ḥmt ("a mulher
ouve").[220]
Os adjetivos são derivados de substantivos por um processo que os
egiptólogos chamam nisbação devido à sua semelhança com o
árabe.[221] A ordem das palavras em
frases verbais e adjetivas é PREDICADO-SUJEITO, e SUJEITO-PREDICADO em frases nominais e adverbiais.[222] O sujeito pode ser movido
para o início das frases se é longo e é seguido por um pronome resumptivo.[necessário
esclarecer][223] Verbos e substantivos são
negados por uma partícula n,
mas nn é usado para frases adverbiais e adjetivas. O acento tônico recai sobre a última ou
penúltima sílaba, que pode ser aberta (CV) ou fechada (CVC).[224]
[editar]Escrita
A Pedra de Roseta, artefato que permitiu aos
linguistas traduzir os hieróglifos
egípcios[225]
A
escrita hieroglífica datada de 3 200 a.C. (túmulo U-j do
cemitério U de Abidos[226]) é composta de cerca de 500
símbolos, que podiam ser representações de animais, plantas, pessoas ou partes
do corpo e utensílios utilizados pelos egípcios.[227] Um hieróglifo pode ser uma
palavra, um som ou silêncio determinante; e o mesmo símbolo pode servir a
diferentes propósitos em contextos diferentes. Os hieróglifos foram uma escrita
formal, usados em papiros, monumentos de pedra e nos túmulos, que podem ser tão
detalhados como obras de arte. No dia-a-dia, os escribas usavam uma forma de escrita cursiva, chamada hierática, que era mais simples e rápida de
escrever, escrita em pedras, papiros e placas de madeira.[228] Enquanto os hieróglifos
formais podem ser lidos em linhas ou colunas em qualquer direção (embora,
geralmente, escritos da direita para a esquerda), a hierática era sempre
escrita da direita para a esquerda, geralmente em linhas horizontais. Para se
saber a direção a qual se devia ler os hieróglifos, era preciso olhar para a
direção a qual as figuras humanas ou de pássaros estavam olhando, pois são
estes que mostram o inicio do texto.[229] Uma nova forma de escrita
surgida no século VII a.C., a demótica,
tornou-se predominante, substituindo a hierática.[230]
Por
volta do século I d.C., o alfabeto
copta começou a ser usado juntamente com a escrita demótica. O
copta é um alfabeto grego modificado
com a adição de alguns sinais demóticos.[231] Embora os hieróglifos
formais tenham sido usados em contexto cerimonial até ao século IV, no
final apenas um pequeno grupo de padres sabiam lê-los. Como os estabelecimentos
religiosos tradicionais foram dissolvidos, o conhecimento da escrita
hieroglífica estava quase perdido. As tentativas de decifração são datadas
do período bizantino[232] e do período islâmico,[233] mas apenas em 1822, após a
descoberta da Pedra de Roseta e
anos de pesquisa de Thomas Young e Jean-François
Champollion, os hieróglifos foram quase totalmente decifrados.[234] Na Pedra de Roseta estaõ
presentes três formas de escrita: hieróglifos formais, hierática e grega.[229]
[editar]Literatura
A
literatura do Antigo Egito inclui textos de caráter religioso (como os hinos às
divindades), mas igualmente obras de natureza mais secular, como textos
sapienciais, contos e poesia amorosa. A literatura apareceu pela primeira
vez em associação com a realeza em rótulos e etiquetas para os itens
encontrados em tumbas reais. Foi principalmente uma ocupação dos escribas, que trabalhavam para a
instituição Per Ankh ou a Casa de Vida,[229] para os escritórios,
bibliotecas (chamadas Casas dos Livros), laboratórios e
observatórios.[235] Algumas das peças mais
conhecidas da literatura egípcia, como os textos das
pirâmides e dos sarcófagos,
foram escritos em egípcio clássico, que continuou a ser a língua da escrita
até 1 300 a.C. Durante este período, a tradição da escrita
evoluiu para as autobiografias em túmulos, como os de Harkhuf e Uni.
O Papiro Edwin Smith (ca.
séculoXVI a.C.) descreve a anatomia e
tratamentos médicos e está escrito em hierática.
O
gênero conhecido como Sebayt (instruções)
foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres
famosos. Deste género destaca-se o Ensinamento
de Ptah-Hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões
do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. O Papiro
Ipuur, um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais
e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou
a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo do Primeiroou Segundo
Período Intermediário. A história de Sinué,
escrita em egípcio médio, é um clássico da literatura egípcia, contando as
peripécias da personagem homônima.[236] OPapiro
Westcar também escrito nesse período, é um conjunto de
histórias contadas a Khufupor seus filhos,
relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes.[237] A obra Instruções
de Amenemope é considerada uma obra-prima da literatura
do Oriente Próximo.[238] Outras histórias famosas
são o Conto do Náufrago (história
de um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), do Príncipe
predestinado (história de um príncipe amaldiçoado), dos Dois
Irmãos (história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e
a Sátira das profissões (sátirarealizada por escribas para mostrar
os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).[229]
O
egípcio tardio foi falado no Império Novo e está representado em
documentos administrativos do período ramessida, poesias de amor e
contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a
língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças
populares como a História
de Unamón e a Instrução
de Any. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado
quando se dirigia ao Líbano para
comprar madeira de cedro e as suas peripécias para voltar
ao Egito. Durante este período, papiros como o Papiro
Cester Beatty I, Papiro Harris 500 e um fragmento
do Papiro de Turim mostram
um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão e erotismo. A partir de cerca de 700
a.C., histórias narrativas e instruções, como a popular Instruções de
Onchsheshonqy, bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos
em demótico. A
ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período grecor-romano
decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação
independente governada por grandes faraós como Ramsés II.[239]
[editar]Religião
Tríade de Abidos
(Osíris, Hórus e Ísis).
Estátua Ka egípcia.
Máscara
funerária deTutancâmon.
Não
existiu propriamente uma religião entre os egípcios, no sentido
contemporâneo da palavra.[240][parcial] No entanto, crenças no divino e na vida
após a morte foram enraizadas na antiga civilização egípcia desde seu início; o
reinado faraônico foi baseado no direito
divino dos reis.[241] Ofaraó era considerado o filho de Rá (posteriormente
fundido com Amon, tornando-se Amon-Rá).[242] A cultura egípcia era
impregnada de religiosidade e a versão oficial da história egípcia era de
caráter religioso. Em períodos mais recentes, até a própria economia se
organizava à volta dos templos - o que não significa, necessariamente, que se
tivesse tornado mais religiosa, já que os templos não eram, possivelmente,
muito diferentes de outros senhorios. Fosse como fosse, o que é claro é que o
padrão de secularização, que temos tendência a tomar por certo no
desenvolvimento das sociedades, não estava presente. A instituição central da
monarquia acabou por perder o seu carisma, mas noutros aspectos tornou-se, de forma
nítida, em vários aspectos: o oficial, de que sabemos bastante, a esfera
funerária, que está também bem representada, e as práticas cotidianas da
maioria da população, separadas, em larga medida, do culto oficial e mal
conhecidas.[carece de
fontes][necessário
esclarecer][parcial]
Os
egípcios eram politeístas e
endeusavam forças da natureza e elementos do universo, vinculando os deuses a
elementos cotidianos.[243] Cada cidade possuía um
deus especifico, no entanto, quando esta se tornava capital, consequentemente o
deus local assim como o animal sagrado tornava-se o deus reverenciado por todo
o império.[242] Os deuses egípcios podiam
ser antropomórficos, zoomórficos ou mistos.[244] Contudo, os egípcios em
momento algum acreditaram, por exemplo, que o deus Hórus, muitas vezes representado com um
homem com cabeça de falcão, tivesse de facto aquele aspecto. A associação dos
deuses com determinados animais relacionava-se com a atribuição ao deus de uma
característica desse animal (no caso de Hórus a rapidez do falcão). O mais
importante na religiosidade egípcia não eram as crenças, mas o culto às
divindades; assim, a religião egípcia preocupava-se mais com a ortopraxia do que com a ortodoxia.[240]
O panteão egípcio era habitado por
dezenas de deuses que tinham poderes sobrenaturais e foram evocados para ajuda
ou proteção. No entanto, os deuses não eram sempre vistos como benevolentes, e
os egípcios acreditavam que tinham de ser aplacados com oferendas e orações. A
estrutura deste panteão mudava continuamente com novas divindades sendo
promovidas nahierarquia, mas os
sacerdotes não fizeram nenhum esforço para organizar os diversos mitos da
criação, por vezes conflitantes, e histórias em um sistema coerente.[245] Estas várias concepções de
divindade não foram consideradas camadas contraditórias, mas sim múltiplas
facetas da realidade.[246] Os deuses eram ordenados e
hierarquizados em grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades). Entre estes grupos podemos citar
a Enéade
de Heliópolis, a Ogdóade de
Hermópolis e as Tríades de Mênfis, Tebas e Elefantina.[240]
Os
deuses eram adorados nos templos e os cultos eram administrados por sacerdotes
em nome do rei. Os templos eram tidos como a morada em terra dos deuses. No
centro do templo, trancada em um naos ficava
a estátua de culto do templo; diariamente a estátua era lavada,
perfumada, maquiladae
alimentada pelos sacerdotes. Os templos não eram locais de adoração pública ou
congregação, e somente em dias de festa e comemorações era selecionado um
santuário para onde era carregada a estátua do deus para a adoração pública.[247] As estátuas eram
carregadas em procissões, à qual a população assistia; durante o percurso
actuavam músicos e cantores. Normalmente, o domínio do deus estava isolado no
mundo exterior e só era acessível aos funcionários do templo. Cidadãos comuns
podiam ter estátuas de cultos privados em suas casas, e amuletos de proteção
oferecidos contra as forças do caos. Após o Império Novo, o papel do faraó como um
intermediário espiritual foi enfatizado como os costumes religiosos deslocados
para dirigir a adoração dos deuses.[necessário
esclarecer] Como resultado, os sacerdotes
desenvolveram um sistema de oráculos para comunicar a vontade dos deuses
diretamente para as pessoas.[240]
Os
egípcios acreditavam numa vida para após a morte. No início esta vida estava
apenas acessível ao rei, mas após o Primeiro Período Intermediário esta
conceção alargou-se a toda a população, o que provocou um enorme aumento do uso
de práticas como amumificação.[240] Os egípcios acreditavam
que todo o ser humano era composto de parte física e espiritual. Além do corpo,
cada pessoa tinha um šwt (sombra), um ba (personalidade
ou alma), um ka (força vital), e um nome.[248] O coração, ao invés do cérebro, foi considerado a sede dos
pensamentos e emoções. Após a morte, os aspectos espirituais são liberados do
corpo e podem ser movidos à vontade, mas necessitam de restos físicos (ou um
substituto, como uma estátua), como um lar permanente. O objetivo final do
defunto era voltar a seu ka e ba e tornar-se
um morto abençoado, vivendo como um akh, ou "unidade
efetiva". Para que isso acontecesse, o falecido tinha que ser julgado
digno no Tribunal
de Osíris, onde seu coração era pesado.[244] Se fosse considerado
digno, o falecido poderia continuar sua existência sobre a terra em forma
espiritual.[249] Se não, seria devorado por
um monstro que consistia na mistura de três animais, leão, crocodilo e hipopótamo.[247]
[editar]Práticas funerárias cerimônia da "abertura da boca".
Os
antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamentos
que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte.[250] Estes costumes envolviam
preservar o corpo por mumificação, realizando cerimônias fúnebres, e
enterrando, junto com o corpo, o espólio que seria utilizado pelo falecido
quando ressuscitasse; antes do Império Antigo os corpos eram
enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados por dessecação. Após a V dinastia,
a mumificação, privilégio exclusivo para as classes abastadas do Egito,
tornou-se acessível para toda a população, mesmo que de forma variada.[240] Durante o Império Novo tornaram-se comuns
os sarcófagos antropomórficos e, durante
a XX dinastia a
prática de decoração das tumbas foi alterada pela prática da decoração dos
sarcófagos.[251] Múmias da Época Baixa também foram colocadas em
sarcófagos com cartonagem pintada.
As práticas de preservação real diminuíram durante as eras ptolomaica e romana,
quando passou a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que
passaram a ser decoradas.[252]
O
sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não
tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e
vinhos corrosivos pelo ânus para dissolver
os órgãos internos. Após alguns dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era
enfaixado com peles de animais para ser enterrado no deserto onde se
conservaria por dissecação. Os ricos, por outro lado, possuíam um processo
diferente, a chamada mumificação artificial. Inicialmente o cérebro era
removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os outros órgãos (prática iniciada
após a IV dinastia[253]), com exceção do coração, eram retirados,
mumificados e depositados em vasos canópicos. O interior do corpo era
lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido com mirra e canela; posteriormente era embebido em natrão (mistura de sais) por 70 dias.
Por fim era lavado para receber resinas, perfumes, bandagem e pós de serra[necessário
esclarecer] e ser enfaixado com tiras de linho
embebidas em goma; entre as tiras havia amuletos de proteção. O corpo recebia
uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos de pedra ou madeira.[240]
Máscara de
Anúbis.
O
cortejo fúnebre se iniciava após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago.
Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos,
sacerdotes e carpideiras contratadas
o acompanhavam. Ao chegarem no seu destino se procedia a uma série de rituais
dos quais o mais importante era o da "Abertura da Boca". Neste
ritual, a múmia era retirada do sarcófago para ser segurada por um sacerdote
com uma máscara de Anúbis. Então, o filho
do morto ou outro herdeiro se vestia com roupa de leopardo e, simbolicamente,
com uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto para este
recuperar o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no
sarcófago para ser enterrado.[247]
O
ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os
enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A
partir do Império Novo, os "livros dos mortos" foram incluídos nos
túmulos, juntamente com estátuas shauabti que, segundo as crenças,
realizavam trabalhos manuais por eles na vida após a morte.[254] Enquanto a classe pobre
era enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que
podiam ser pirâmides,hipogeus (túmulos
subterrâneos cavados nos barrancos dos rio ou em encostas de montanhas) emastabas (tumbas
de base retangular com salas para oferendas).[255] Como forma de proporcionar
serenidade ao morto, os túmulos foram pintados com cenas da vida do morto.[240] Após o enterro, se
esperava que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e
recitar orações em nome do falecido.[256]
[editar]Mumificação animal
Outra
prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser
bichos de estimação, pedaços de carne para as múmias ou então animais sagrados,
divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos
destinados aos templos de culto a animais. A partir da XXVI dinastia, as múmias
votivas tornaram-se populares, o que gerou um intenso comércio que empregou
legiões de trabalhadores especializados. Entre os animais embalsamados podem se
citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes,
crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves, escaravelhos, musaranhos e serpentes. Os animais
eram preparados como as múmias humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou
então dissolvidos, depois eram lavados interiormente com vinho e depois
banhados em natrão para ressecamento e posteriormente eram envoltos com resinas
para fixação das bandagens de linho.[257]
[editar]Arte
Busto de Nefertiti,
pelo escultor Tutmés, é uma das mais famosas obras-primas
da arte egípcia antiga.
Os
antigos egípcios produziram arte para servir propósitos funcionais. Por mais de
3 500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e a iconografias que
foram desenvolvidas durante o Império Antigo, na sequência de um rigoroso
conjunto de princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança
interna.[258] Estes padrões artísticos –
linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com características
projeções planas das figuras sem indicação de profundidade espacial - criou um
senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição. Imagens e textos foram
intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos templos, caixões estelas e
até estátuas. APaleta de Narmer,
por exemplo, exibe números que também podem ser lidos como hieróglifos.[259]Por causa das regras rígidas que
presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte egípcia
antiga serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e clareza.[260] A hierarquia social e
religiosa influenciava no tamanho dos personagens.[261]
As
figuras nas pinturas e baixo-relevos são
representadas respeitando-se a lei da frontalidade:
cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros, umbigo e
baixo-ventre de frente.[262][263] O personagem principal de
uma pintura devia ser representado sempre maior do que os personagens
secundários. Faraós mandaram gravar em relevos vitórias
de batalhas, decretos reais e cenas religiosas. Eram dispostos em faixas
horizontais acompanhados por hieróglifos e apresentavam até "balões"
indicando falas.[264]
Pintura de Nefertari no seu túmulo.
As
cores possuíam uma função simbólica nas pinturas. O preto usado nas
sobrancelhas, perucas, olhos e bocas representava a noite, a morte, a
fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo. O branco usado nas vestes
dos sacerdotes, nos objetos rituais, nas casas, nas flores e nos templos era
associado a pureza, verdade, alegria e triunfo. O vermelho representava a
energia, o poder, a sexualidade e Seth.
A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de
amarelo-ocre. O amarelo representava a eternidade; o verde, a regeneração e a
vida; o azul, o Nilo e o céu.[261][264] As tintas eram obtidas a
partir de minerais, como minérios de ferro (ocre vermelho
e amarelo), minérios de cobre (azul
e verde), fuligem ou carvão (preto), e calcário (branco). As tintas podem ser
misturadas com goma-arábica como
aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando
necessário.[265] No entanto, análises de
múmias de cerca de3 200 a.C. mostram sinais de anemia hemolítica e
outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados (chumbo, mercúrio, arsênio, cobre)
que eram usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas
classes dominantes.[carece de
fontes]
Os
artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto, pórfiro, xisto, diorito e o granito) para esculpir estátuas e finos
relevos, mas usavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir.
Algumas estátuas serviam objetivos políticos, sendo colocadas diante dos
templos para que o povo as visse, mas tinham sobretudo um objetivo religioso.[266] No geral as estátuas
representam uma figura que olha para a frente, numa linha perpendicular ao
plano dos ombros, com os braços colados ao corpo. As estátuas que se
encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de
substituição; o ka e o ba deveriam reconhecer
o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante representar os defeitos do
corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Giza
e os Colossos de Memnon.[76][100]
Os
cidadãos comuns tiveram acesso a obras de arte funerária, tais como estátuas shauabti e o livro dos mortos, que
acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte.[250] Durante o Império Médio,
modelos de madeira ou de barro que representam cenas da vida diária tornaram-se
populares aditamentos aos túmulos. Em uma tentativa de duplicar as atividades
da vida após a morte, estes modelos mostram operários, casas, barcos e até
mesmo formações militares que são representações à escala do ideal de vida após
a morte dos antigos egípcios.[267]
Apesar
da homogeneidade da arte egípcia antiga, os estilos de determinadas épocas e
lugares, por vezes reflete a mudança de atitudes culturais ou políticas. Após a
invasão dos hicsos no Segundo
Período Intermediário, afrescos de estilo minoico foram
encontrados em Aváris.[268] O exemplo mais marcante de
uma mudança de motivação política na forma artística encontra-se noperíodo
Amarna, quando as figuras foram radicalmente alteradas em
conformidade com as ideias religiosas revolucionárias deAkhenaton.[269] Este estilo, conhecido
como a arte
Amarna, foi rapidamente e completamente apagado depois da morte de
Akhenaton e substituído por formas tradicionais.[270] Durante a época romana os
"retratos de Faium"
dominaram a composição mortuária. As máscaras mortuárias foram substituídas por
retratos realistas dos defuntos.[264]
[editar]Arquitetura
A Grande Esfinge e
as pirâmides de Gizé,
erguidas durante o Império Antigo.
A
arquitetura do Antigo Egito inclui algumas das estruturas mais famosas do
mundo: asGrandes Pirâmides de
Gizé e os templos em Tebas. Vários
projetos foram organizados, construídos e financiados pelo Estado para fins
religiosos e comemorativos, mas também para reforçar o poder do faraó. Os antigos egípcios eram
construtores qualificados, usando ferramentas simples mas eficazes e
instrumentos de observação, podendo os arquitetosegípcios construir grandes
estruturas de pedra com exatidão e precisão.[271]
As
habitações da elite e
dos egípcios comuns foram
construídas de materiais perecíveis tais como lama,
tijolos e madeira.[272] Os camponeses viviam em
casas simples, enquanto os palácios da elite foram estruturas mais elaboradas.
As cidades egípcias possuíam bairros diferenciados e eram protegidas por
muralhas.[273] Uns poucos palácios
sobreviventes doImpério Novo,
tais como os de Malkata e Amarna, mostram paredes ricamente decoradas e chão com
cenas de pessoas, pássaros, piscinas de água, divindades e design geométrico.[274]
O bem
preservado Templo
de Edfu é um dos exemplos da arquitetura egípcia antiga.
Estruturas
importantes, como templos e túmulos, que se pretendia que durassem para sempre,
foram construídos em pedra em vez de tijolos. Os mais antigos templos
preservados do Antigo Egito, como os de Gizé, consistem de simples salões anexos
com lajes suportadas por colunas. No Império Novo, os arquitetos adicionaram
o pilone, o pátio aberto e anexos
salões hipostilos de frente com os santuários
dos templos, um estilo que foi padrão até ao período grecorromano.[275] Os templos de Karnak e Luxor são
dois dos maiores exemplos deste tipo de edificação egípcia. A mais antiga e
mais popular tumba arquitetônica do Império Antigo foi a mastaba, uma estrutura retangular de teto
achatado construída de tijolos de lodo ou pedra acima de uma câmara funerária
subterrânea. Apirâmide de degraus de Djoser, a primeira pirâmides construída, é uma série de
mastabas de pedra empilhadas em cima uma das outras; estas possuem simples
arquitraves apoiados em motivos de papiros e flores de lótus.[276] Foram construídas
pirâmides durante o Império Antigo e Médio, mas os
governantes tardios abandonaram-nas em favor de tumbas menos notáveis escavadas
na pedra.[277] No Império Antigo foram
construídas dezenas de pirâmides, entre quais as Pirâmides de Gizé, que são uma
das Sete maravilhas
do mundo antigo.[133][278] As pirâmides eram formadas
por blocos de pedra de três toneladas, as quais eram cortadas com cunhas de
madeira e depois eram arrastadas para cima em rampas sobre trenós.[272] Os interiores das
pirâmides foram construídos dispondo-se um tipo de labirinto onde se era
depositado o túmulo faraônico em uma câmara secreta para evitar saqueadores.[263]
[editar]Tecnologia e ciência
O
Antigo Egito atingiu níveis de sofisticação e produtividade relativamente altos
na tecnologia, medicina e matemática. As primeiras manifestações de empirismo tradicional ocorreram no
Egito, como é evidenciado pelos papiros de Edwin Smith no Ebers (1 600 a.C.), e as raízes
do método científico podem também encontrar-se entre os antigos egípcios.[carece de
fontes]
[editar]Faiança e vidro.
A produção
vítrea foi uma indústria desenvolvida.
Mesmo
antes do Império Antigo, os egípcios antigos desenvolveram um material vítreo
conhecido como faiança, que eles
tratavam como um tipo de pedra artificial semipreciosa. A faiança é umacerâmica feita de sílica, pequenas quantidades de cal e soda, e um
colorante, tipicamente cobre.[279]O material foi usado para
fazer miçangas, telhas, figurinhas, e pequenas
peças cerâmicas. Vários métodos podem ser usados para criar faiança, mas a produção
tipicamente envolve aplicações de materiais pulverizados na forma de uma pasta
mais um núcleo de argila, a que foi ateado
fogo. Por uma técnica relacionada, os egípcios produziram um pigmento conhecido
como egípcio
azul, também chamado frita azul,
que é produzido por fusão (ou sinterização) de sílica, cobre, cal, e um
material alcalino como o natrão. O produto pode
ser triturado e usado como um pigmento.[280]
Os
antigos egípcios sabiam fabricar objetos de vidro com
grande habilidade, fato comprovado pela grande variedade de objetos cotidianos
e de adorno encontrados em tumbas e pela recente descoberta de uma fábrica de
vidro, no entanto não é claro se eles desenvolveram o processo
independentemente.[281] É também pouco claro se
fizeram seu próprio vidro bruto ou meramente importaram lingotes pré-feitos,
que derreteram e finalizaram. No entanto, tinham conhecimento técnico para
fazer objetos, bem como para adicionar sais minerais para controlar a cor do
vidro final. Eram produzidas diversas de cores, incluindo amarelo, vermelho,
verde, azul, roxo, e branco, e o vidro podia ser transparente ou opaco.[282]
[editar]Medicina
Instrumentos
médicos, representados numa gravura doTemplo de Kom Ombo do
período Ptolomaico.
Os problemas
médicos dos antigos egípcios estavam diretamente relacionados com o meio
ambiente. Viver e trabalhar perto do Nilo envolvia riscos de malária e de esquistossomose, um parasita debilitante que
causa danos ao fígado e intestino. Perigosos animais selvagens comocrocodilos e hipopótamos também foram uma ameaça
comum. O trabalho vitalício na agricultura e em construções provocava stress na coluna vertebral e articulações, e ferimentos traumáticos na
construção e na guerra tiveram impacto significativo na saúde de muitos egípcios. Cascalho e areiausados para
moer farinha desgastava
os dentes,
deixando-os suscetíveis a abscessos (emboracáries fossem
raras).[283] A
dieta dos ricos foi rica em açúcar,
o que provocou periodontite.[284]Apesar
da lisonjeira retratação do físico
nas paredes dos túmulos, o excesso de peso de muitas múmias da classe alta
mostra os efeitos de uma vida de excesso.[285] A expectativa de vida dos adultos foi de 35
para os homens e 30 para as mulheres,
mas muitos jovens não chegavam a atingir a maioridade, pois aproximadamente um
terço da população morria na infância.[286]
Os médicos
egípcios foram renomados no Oriente Próximo por suas habilidades
curativas, e alguns, como Imhotep, mantiveram a sua
fama muito para além da sua morte.[287] Heródoto comentou que havia um alto teor
de especialização entre os médicos egípcios, com alguns tratando só a cabeça ou
o estômago, sendo outros oculistas e dentistas.[288] Os lugares de formação dos
médicos, chamados Per Ankh ou "Casas de Vida", eram áreas de templos que
funcionavam como biblioteca e
arquivo, onde também se ministravam conhecimentos e se copiavam textos.
Conhece-se a existência de tais instituições em Bubástis no Império Novo e em Abidos (Egito) e Saís na Época Baixa. Os papiros
médicos egípcios evidenciam conhecimentos empíricos de anatomia, doenças, e tratamentos práticos.[289]
Os egípcios
foram os primeiros a afirmar que as doenças têm causas naturais, o que
motivou-os a produzir medicamentos para
combatê-las. Os egípcios produziram a primeira farmacopeia conhecida. Entre os
medicamentos podem-se citar ervas medicinais, sangue de lagartos, fezes animais, leite de
mulher grávida e livro velho fervido.[290][142] Feridas foram tratadas por
bandagem com carne crua, linho branco, suturas, redes e cotonete encharcado com
mel para evitar infecções,[291] enquanto ópio foi usado para
aliviar a dor.Alho e cebola foram usados regularmente para promover boa
saúde e acreditava-se que aliviavam os sintomas de asma.
Os cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas, colocavam braços quebrados
no lugar, e amputavam membros doentes, mas também reconheceram que alguns
ferimentos eram tão graves que a única coisa a fazer era confortar o paciente
até sua morte.[292]
A previsão do
futuro era praticada através da interpretação dos sonhos. Foi encontrado um
papiro com uma relação de sonhos e interpretações.[293]
[editar]Construção
naval
Barca solar de Quéops.
Os egípcios
sabiam como juntar tábuas de madeira para construir cascos de navios pelo menos
desde 3 000 a.C. O Instituto Arqueológico da América relatou
que alguns dos mais antigos barcos desenterrados alguma vez desenterradps são
os chamados barcos
de Abidos, um grupo de 14 navios descobertos em Abidos pelo
egiptólogo David O'Connor da Universidade de
Nova Iorque. Foram construídos com tábuas de madeira que foram
"costuradas" juntas. Foram encontradas alças de tecido usadas para
manter as tábuas juntas, e para selar as costuras entre as tábuas, aquelas eram
cheias com papiro (junco)
e grama. Devido ao fato de todos os
navios estarem enterrados juntos perto da casa mortuária do faraó Khasekhemui (m. 2 686 a.C.),
originalmente pensou-se que lhe teriam pertencido, mas uma das embarcações foi
datada de 3 000 a.C. e jarros de cerâmica enterrados associados
com os navios também sugerem datação mais antiga. O navio datado de3 000
a.C. tem 23 metros de comprimento e atualmente acredita-se que
possivelmente terá pertecencido a outro faraó mais antigo. De acordo com
O'Connor, ele pode ter pertencido ao faraóAha.[294]
Os antigos
egípcios também sabiam como juntar tábuas de madeira com cavilhas de madeira para firmá-las
juntas, usando breu para calafetar as juntas. O "Navio de Quéops", uma embarcação de 43,6
metros selado em um poço na Complexo das Pirâmides de
Gizé ao pé da Grande Pirâmide na IV dinastia em
torno de 2 500 a.C., é um sobrevivente completo que pode ter cumprido
a função simbólica de uma barca solar. Os antigos egípcios também sabiam como
prender as tábuas do navio juntas com peças encaixáveis (caixa e espiga). Apesar da capacidade dos
egípcios antigos para construir barcos muito grandes e para facilmente
navegarem ao longo do Nilo, eles não foram
conhecidos como bons marinheiros e não se envolveram em amplas expedições
marítimas no Mediterrâneo ou Vermelho.[carece de
fontes]
[editar]Matemática
Porção
do Papiro de Rhind.
Côvado
egípcio.
Os antigos
egípcios utilizavam seus conhecimentos para resolver problemas como controle
das inundações, construção de sistemas hidráulicos, preparação da terra para a
semeadura, mumificação de cadáveres, etc.
Os primeiros
exemplos atestados de cálculos matemáticos são datados do período
pré-dinástico Naqada, e mostram um sistema numeral totalmente desenvolvido. A importância da matemática
para um egípcio educado é sugerido por uma carta ficcional doImpério Novo em que o escritor propõe uma
competição acadêmica entre ele e outro escriba nas tarefas diárias, tais como
cálculo de contabilidade de trabalho, terra e grãos.Textos como os papiros
de Rhind e o
de Moscou mostram
que os antigos egípcios podiam realizar as quatro operações matemáticas básicas
– adição, subtração, multiplicação e divisão, – usavam frações, calculavam
volumes de caixas e pirâmides, e calculavam áreas de retângulos, triângulos,
círculos e até mesmo esferas. Eles entendiam os conceitos básicos de álgebra e geometria, e podiam resolver conjuntos simples
de equações simultâneas.
A notação matemática era decimal,
com base em sinais hieróglifos para cada potência de dez até um milhão. Cada um
desses símbolos poderia ser escrito tantas vezes quanto necessário para somar o
número desejado. Por exemplo, para escrever o número oitenta e oitocentos, o
símbolo de dez ou cem era escrito oito vezes respectivamente.[299] Por seus métodos de cálculo
não poderem lidar com frações com numerador maior que um, asfrações
dos antigos egípcios eram escritas como a soma de várias
frações. Por exemplo, a fração 2⁄5 (dois
quintos) era representada pela soma de 1⁄3 (um terço) com 1⁄15 (um quinze
avos), o que era facilitado pela existência de tabelas.[300] Algumas frações comuns,
porém, eram escritas com um hieróglifo especial; existia, por exemplo um
hieróglifo para representar 2⁄3 (dois
terços).[301]
A proporção áurea parece
refletir-se em muitas construções egípcias, incluindo as pirâmides, mas seu uso
pode ter sido uma consequência não intencional da prática egípcia de combinar o
uso de cordas com nós com um senso intuitivo de proporção e harmonia. Os matemáticos egípcios
antigos compreendiam os princípios subjacentes ao teorema de Pitágoras,
sabendo, por exemplo, que um triângulo tinha
um ângulo reto oposto
à hipotenusa quando seus lados estavam em
uma proporção 3-4-5. Eles eram capazes de estimar a área de um círculo,
subtraindo um nono de seu diâmetro e elevando ao quadrado o
resultado, o que é uma aproximação razoável da fórmula πr 2:
2⁄3 em hieroglifos é
|
||
|
Área
≈ [(8⁄9)D]2 = (256⁄81)r2 ≈ 3.16r2
Química e
astronomia
A palavra
química vem do egípcio Kemi, que significa "terra negra".
Para fins medicinais e composições simples, os egípcios utilizaram de
substâncias químicas como arsênio, cobre, petróleo, alabastro, sal, sílexmoído, etc. A astronomia teve grande
importância religiosa, pois era por meio dela que os egípcios determinaram
datas de festas religiosas. Com a obervação dos astros e enchentes, os egípcios
desenvolveram um calendário, onde o primeiro dia do ano é
o primeiro dia das cheias. O calendário egípcio possuía
365 dias divididos em 12 meses de 30 dias; os dias possuíam 24 horas, no
entanto, uma hora egípcia variava de acordo com as estações agrícolas. O ano
era dividido em três períodos de quatro meses: inundações (julho a outubro),
plantio (novembro a fevereiro) e colheita (março a junho). Além disso, os egípcios
tinham conhecimento de alguns planetas, e agrupavam as estrelas que conheciam
em constelações,
produzindo mapas astronômicos.
Legado
A cultura e
monumentos do Antigo Egito, deixaram um legado duradouro para o mundo. Algumas
práticas religiosas egípcias (circuncisão, práticas esotéricas e ocultistas e certas concepções do Além) são
características visíveis em certas crenças atuais. Algumas palavras (como química)
e expressões (como anos de vacas magras) são de origem egípcia,
além de terem sido eles os inventores do ancestral do papel, o papiro. Também contribuíram com
alguns símbolos da alquimia, como a serpenteouroboros e a fênix.
Turistas
montados em um camelo na frente da Pirâmide de Quéfren.
As Pirâmides de Gizé são
um dos pontos turísticos mais populares do Egito.
O culto da
deusa Ísis, por exemplo, tornou-se popular no Império Romano, com obeliscos e outras relíquias sendo
transportadas para Roma. Os romanos também utilizavam
materiais de construção importados do Egito para erguer estruturas em estilo
egípcio. Os primeiros historiadores como Heródoto, Estrabão, Diodoro Sículo estudaram e escreveram
sobre a terra que passou a ser vista como um lugar de mistério.
Durante a Idade Média e Renascimento, a cultura pagã egípcia entrou em
declínio após a ascensão, primeiro do Cristianismo e depois do Islã, mas o interesse na antiguidade egípcia
continuou nos escritos de estudiosos medievais muçulmanos como Dhul-Nun
al-Misri e al-Maqrizi. Nos séculos XVII e XVIII,
viajantes e turistas europeus trouxeram de volta as antiguidades e escreveram
histórias de suas viagens, levando a uma onda de egiptomaniaem
toda a Europa. Esse interesse renovado enviou
coletores para o Egito, que levaram, compraram ou foram presenteados com muitas
antiguidades importantes.[314]
Embora a
ocupação colonial europeia
do Egito tenha destruído uma parte significativa do legado histórico do país,
alguns estrangeiros tiveram atuações mais positivos. Napoleão, por
exemplo, organizou os primeiros estudos em egiptologia quando ele levou cerca de 150
artistas e cientistas para estudar e documentar a história natural do
Egito, que foi publicado na Description
de l'Egypte.
No século XX, o
governo egípcio e os arqueólogos reconheceram a importância do respeito
cultural e integridade nas escavações. O Conselho
Supremo de Antiguidades agora aprova e supervisiona todas as
escavações, que visam encontrar informações ao invés de tesouros. O conselho
também supervisiona os museus e programas de reconstrução de monumentos
concebidos para preservar o legado histórico do Egito.
By:Schtuz Mangovesk blogspot